Portal Fórum abril 30, 2015
O caso da menina de oito anos que
canta e dança músicas com forte cunho erótico chama a atenção para a realidade
de outros funkeiros mirins, que estão sendo alvo de investigação do Ministério
Público e alertam para os prejuízos do estímulo a uma sexualidade precoce.
Por Maíra Streit
Um vídeo tem chamado a atenção
dos internautas nas últimas semanas. Nele, uma menina de apenas oito anos dança
no palco durante um show de funk. De costas para a plateia, ela encena uma
coreografia sensual. O homem que aparece ao lado, pedindo ao público para
aplaudir a apresentação da “novinha”, como se refere à criança, é o próprio
pai, Thiago de Abreu, conhecido como MC Belinho. Em outros vídeos publicados na
internet, vistos por milhões de pessoas, a pequena Melody aparece vestindo
roupas curtas e enchimentos nos seios, e cantando letras consideradas
inapropriadas à idade. Na música “Fale de Mim”, ela manda um recado para as
“invejosas”. “Para todas as recalcadas, aí vai minha resposta: se é bonito ou
se é feio, mas é f*** ser gostosa”. A repercussão foi imediata e gerou críticas
à exposição e ao estímulo à erotização infantil. Um abaixo-assinado no Avaaz alcançou
quase 30 mil adesões em dez dias, pedindo “intervenção e investigação de
tutela” ao Conselho Tutelar de São Paulo. A garota chegou a ter seu perfil
retirado do Facebook após denúncias de conteúdo impróprio. Com base em queixas
e representações encaminhadas pela ouvidoria, o Ministério Público do Estado de
São Paulo abriu um inquérito para investigação de “violação ao direito ao
respeito e à dignidade de crianças e adolescentes”, não só em relação à MC
Melody, mas também a outros funkeiros mirins. O caso está sob responsabilidade
da Promotoria de Justiça de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos da
Infância e da Juventude da Capital. Segundo o promotor Eduardo Dias de Souza
Ferreira, o episódio envolvendo a menina acabou dando visibilidade a outras
crianças e adolescentes que também seguiam uma carreira parecida. “Optamos por
fazer um procedimento que cuidasse dos MCs mirins, com letras de forte apelo
erótico, sexual, e coreografias nesse sentido. Isso ofende a Constituição e o
ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente]”, explica. O inquérito, a que Fórum
teve acesso, traz uma denúncia à empresa KL Produções, acusada de lançar os
pequenos cantores com músicas de funk carregadas de termos depreciativos,
apologia a drogas, crimes e prostituição. De acordo com o promotor, já existem
profissionais especializados nesse segmento. Por consequência do machismo
presente na sociedade, há no trabalho dos meninos do funk um apelo sexual ainda
maior do que no das meninas. “Como é bom transar com a p*** profissional. Vem
f**** no clima quente, no calor de 30 graus”, canta o MC Pedrinho, de 12 anos.
Além dele, MC 2K, MC Bin Laden, MC Brinquedo e MC Pikachu também são alvo da
investigação do Ministério Público paulista.
Sexualidade precoce
Para a psicóloga Sandra Santos, o incentivo à sexualidade
precoce pode trazer uma série de prejuízos para o desenvolvimento saudável de
crianças e adolescentes. “A gente sabe que esse período é extremamente
importante para o desenvolvimento. É um período de descoberta e isso vai acontecendo
pouco a pouco, mas o contato com um ambiente vulnerabilizador faz com que essa
criança desperte muito cedo para a sexualidade. Descobrir isso a partir da
ótica do adulto tira dela essa inocência”, observa. Analisando o vídeo da
pequena Melody, Sandra avalia o assédio em torno da menina. “Imagino que possa
estimular o assédio dos homens. Tudo isso é extremamente danoso e hostil. Um
contato feito de uma forma inadequada, através de adultos que estimulam esse
desejo”, afirma. Os comentários vistos nas fotos e vídeos da garota ilustram o
que explica a psicóloga. A maioria deles é feita por adultos, que usam termos
como “delicinha” e “monumento de mulher” para se referir à cantora de oito
anos. Há ainda xingamentos e outras ofensas que partem de alguns internautas
mais exaltados. Ameaçado de perder a guarda da filha, MC Belinho garantiu que
Melody não faz apresentações profissionais [apesar disso, a página da cantora
no Facebook divulga dois telefones de contato para shows]. Em um vídeo
publicado para esclarecer as polêmicas em torno do caso, ele afirma que
sustenta as duas filhas apenas com o que ganha como funkeiro e que não
incentiva a criança com o objetivo de obter lucro pessoal, conforme foi
acusado. O pai alega que as denúncias são motivadas por preconceito ao funk e
que a menina “não é obrigada” a fazer nada. Em tom de desabafo, MC Belinho
chamou os críticos de “recalcados” e disse que agem dessa forma por não terem o
sucesso conquistado por eles atualmente. Porém, dias depois parece ter se
arrependido das declarações e prometeu mudar o estilo adotado pela filha na
carreira artística. Ele afirmou que, a partir de agora, a pequena deve aderir a
um perfil mais ligado à música pop, como o da cantora Anitta, que ela tem como
referência. O promotor Eduardo Ferreira garante que o gênero musical não está
em questão. “Não temos nada contra o funk. Se estivessem executando letras e
coreografias adequadas para a idade, não teríamos problemas”, destaca.
Bom na minha opinião essa criança esta sendo aliciada pelo seu pai, para que tenha essas atitudes de ''mulher'', em que participa de shows e se expõe. Essa menina de apenas 8 anos, com certeza esta perdendo uma fase muito importante da sua vida que é a INFÂNCIA, ou seja ''ser criança''. Ela como uma criança não percebe o quanto esta sendo prejudicada, porém em algum momento essa menina irá sim passar por traumas psicológicos. Eu não sou médica, psicóloga, muito menos psiquiatra. Porém acho sim, que ela irá ter grandes consequência psicológicas, no futuro. No momento não sei em que ''pé'' esta a situação, mas aproveitei a reportagem para expor sobre o assunto: Erotização precoce. Na qual estamos vivendo hoje em dia, em que crianças perdem o direito de serem crianças, e se tornam adultos precocemente.
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